quinta-feira, 14 de outubro de 2010

HÁ GOSTO

há gosto de sangue
no mês que acaba,
há gosto de saudade
no barulho da bala.

há gosto de tristeza
na lágrima que cala,
há gosto de silêncio
na terra, na vala.

há gosto de desgosto
de não poder fazer nada,
há gosto de setembros
só assim esse mês acaba!

.............. (com pesar por dois alunos que se foram em menos de um mês...)

SILÊNCIO

a palavra que não foi dita

calou-se no íntimo de nós...

a distância não mostrou a cara

e os braços disseram enlaçados

o que a boca negou-se a falar.


e não houve despedidas

o sentimento venceu a palavra,

o silêncio do momento

reinaugurou o amor

sem precisar separar o verbo
amar...

DOS TEUS OLHOS

Seus olhos me trazem paz
e eu,
pedinte eterno,
quero sempre um pouco
mais...

dos teus olhos
quero o cansaço
e esse secreto desejo
de ser sempre descoberto.


Quero esse amor
e ver o mundo
no verde desse olhar,
sendo assim,
peço mais
e o mais importante:

que esses olhos
tão puros,
atlânticos,
possam me perceber,
só por uma vez!

REFÉM

à sobra da tua face
meu sonho repousou,
fez uma fenda na saudade
invadindo a solidão,
dilacerando a solidão,
deixando de ser só
a solidão.

à sombra de minha mão
te guardei.
com carinho ampliei
o teu mundo.
dei sentido à antiga escuridão
e com aluz
que há em teus olhos
inaugurei um amanhecer
eterno e único.

e te fiz assim,
anjo-mulher,
eterna e única.

em troca,
recriaste em mim uma antiga solidão.
deste a mim um olhar
opaco e seco...

porém te digo:
podes roubar de mim
a tua companhia
e teu amor,
mas sempre serás refém
porque teu mundo
quem inventou fui eu...

Podes roubar de mim
a tua companhia
e teu amor,
só não poderás
roubar o que há em mim
de luz,
pois isso, fui eu
que roubei te ti...

ESCAPEI DO POEMA

Escapei do poema
como quem se salva
das garras de um inimigo
ou dos braços do amigo pidão.

Escapei do poema,
o deixei na metade
de um caminho.

Troquei o poema
pela verdade.

troquei o silêncio da poesia
pela poesia de um sorriso,
sorriso bom de mulher...

aí o que era poesia
transbordou pelo chão
e seu barulho ecoou,
e deixando de ser eu,
escapando até de mim,
como quem se salva
da beira de um abismo.

Foi assim,
quando de um poema seco,
Você me salvou
sem que eu dissesse nada...

PRIMEIRA AVENTURA - Num lugar qualquer do Recife

Depois de tanto imaginar
teus seios em outros seios,
aqui estamos nós três,
frente a frente...
a agora as palavras somem
(melhor assim...)
e como num momento mágico
e único
nos contemplamos
surpresos da beleza
depois de tanto imaginar
o carinho nos teus seios
agora é tudo azul pra mim,
o céu desceu e ficou entre nós
e nesse celeste e infinito silêncio
ficamos,
e ficamos assim,
porque a partir daí
só as mãos e os corpos
se comunicavam
num silêncio eterno e azul
que não exige as palavras...

SEGUNDA AVENTURA - ainda o silêncio

Na noite o silêncio é agudo
e as palavras, todas elas, mesmo as mais complicadas,
não dizem nada
porque no silêncio da noite
a linguagem camal
só aceita toques e sussurros
exagerados ou não...
na linguagem camal
tudo é foda mesmo!

BEBEDEIRA

A estante de livros caída no chão.
Os livros no chão.
Tudo que não li...
Tudo que não vi...
O "Canto Geral" esmagando os cigarros
que não fumei.
A garrafa ainda no lacre
despedaçada em mil.
O uísque embebedando os livros,
todos eles...
Neruda, Vinícius e Bukowski
deitados no chão,
encharcados no chão...
E eu ali, ironicamente,
sento-me numa cadeira,
salvo alguns poucos inocentes
e adimiro com pesar
esta grande bebedeira...
Do alto de tua eternidade
Só quero um minuto hoje,
E o resto
eu quero amanhã.
E quero com urgência
e leveza
o que a natureza
fez com perfeição.

Do alto de sua eternidade
Eu mergulhei
E caí num instante mágico
Do minuto perfeito,
Infalível.
Fraturei um sentimento
de saudade presente e
com artefatos do prazer
engessei em mim
um pensamento em você.

DESINVENÇÃO

Desinventou sua casa,
Todas elas. Então passou
a morar em ruas e cavernas.
Desinventou roupas e objetos
desinventou carros e restos
de tudo o que sobrou.
Desinventou o sol e a lua,
passou a viver na escuridão.
Desinventou as flores,
desfez todas as cores
e passou a viver em preto e branco.
Desinventou a poesia que havia
em todas as coisas
e viveu só, sem motivos
desinventou o amor
e todos os bons sentimentos
então, em poucos minutos,
apareceu a morte
e o desinventou!
.....................................(mais um poeminha antigo e esquecido)

A LISTA

Uma lista de compras antiga
no fundo da gaveta escrita
camisas, calça, cuecas,
leite, banana, pão,
antidepressivos, cadernos e livro...

finda a lista meus olhos emudecem,
vejo que minhas necessidades
são sempre as mesmas,
e o que mais necessito
não posso metaforizar,
não posso comprar,
muito menos enumerar em uma lista...
......................................... (poeminha antigo e atual)

SÓ UMA ROSA

Retirada do ramalhete
uma rosa é só uma rosa.
E a solidão é maior,
e cresce ao se afastarem...

Uma rosa solitária
é só uma rosa afastada
cheia de solidão e saudade,
e cheia de uma certeza:
- jamais
será buquê de novo!

SUICÍDIO

Quando, antes da explosão,
a amada se joga do último andar,
plena de amor, satisfeita...
eu me jogo também,
porque no amor
o empate é a melhor vitória.